terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eternidade inútil


Até morrer estarei enamorada
de coisas impossíveis:

tudo que invento, apenas,
e dura menos que eu,
que chega e passa.

Não chorarei minha triste brevidade:
unicamente alheia,
a esperança plantada em tristes dunas,
em vento, em nuvem, n'água.

A pronta decadência,
a fuga súbita
de cada coisa amada.

O amor sozinho vagava.
Sem mais nada além de mim...
numa eternidade inútil.


Cecília Meireles
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Poema da tristeza

Sou triste porque sonhei
coisas inalcansáveis,
que se não devem sonhar...
Choram os meus olhos,
castigados por se terem erguido
para lá dos céus que se vêem...
Foram punidas as minhas mãos,
e sangram,
pelo pecado de quererem tocar
aquelas flores maravilhosas
dos teus vergéis...
Morre-me a voz,
de cantar-te,
ó Eleito,
e que eternidades não tem de sofrer
esse pobre, esse mísero canto,
para chegar
do meu coração ao teu!...
Sou triste porque a minha alma
não quer mais nada, do que tem...
Porque a minha alma
não pode ter
nada mais...
Sou triste,
sou triste,
sou triste porque sonhei
coisas inalcansáveis,
que se não devem sonhar!...

(Cecília Meirelles)
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"É loucura, meu anjo, é loucura
Os amores por anjos... bem sei!
Foram sonhos, foi louca ternura
Esse amor que a teus pés derramei!"

(Álvares de Azevedo)
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Duas dose de Cecília, um trago de Àlvares.
E assim me entorpeço.

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