quinta-feira, 22 de novembro de 2007


Amar Pessoa
__ Sabe, eu realmente ando apaixonada...
__ Claro, eu disse as meninas que isso era amor.
As amigas de longa data, todas balzacquianas casadas e com filhos, menos Milena, que era separada ainda não tinha procriado.
__ Não se trata de uma paixão, mas quase uma constatação. Encontrar esse amor foi um precesso de mergulho interno, muitos anos de vontades reprimidas. Mas essa pessoa chegou tão devagar, foi se aninhando com seu lado amigo, com sua forma tão natural de ver o mundo e sobretudo a paciência de ser didática. Aprendi a ver as coisas de modo mais natural, com a aceitação e sinseridade que nunca antes tinha ousado. E digo ousado porque a franqueza só é real quando conseguimos nos assumir e essa pessoa me trouxe de dentro, foi me buscar no poço escuro de mim mesma, hoje me sinto livre de mim, de minha amarras, essa pessoa me deixou leve e em paz. Contudo é uma paz condicional, nem tudo é feito dessa calmaria celeste. Meninas, na cama eu ardo, queimo, explodo e afrouxo os músculos recém contraídos no orgasmo, coisa que já conhecia, mas não naquela intensidade e modo. Posso dizer que ali fui mulher, assim como tinha sonhado, como tinha um dia planejado e frustrado. Essa coisa de desenhar meu corpo nas pontas dos dedos é nova, o carinho como meu corpo é tratado, o cuidado de uma jóia rara, aperta na hora exata, insinua no momento que quero ser invadida, contraria minha velocidade e mostra seu poder quando dita e determina meu tempo, modo e forma de gozar. Depois o carinho como sou acolhida no pós orgasmo é como uma criança desprotegida, como eu poderia dizer não? Não podia, renasci, ou talvez tenha nascido realmente naqueles braços macios, mas que transmitem força e segurança. Eu não sabia dessa capacidade nem da existência desse tipo de amor. Agora que descobri estou entregue e quero sentir mais, aceitar mais e avançar esse processo evolucionista. Na verdade penso que não estou amando, estou crescendo, não amo a personificação física, amo a coisa chamada pessoa, fui aos confis mais complexos, aos becos mais estreitos do conhecimento, aos labirintos mais loucos das explicações humanas para chegar na coisa mais substantiva e simples, eu não amo Uma ou A pessoa, eu amo pessoa, nas mais variadas formas e interpretações que essa palavra possa ter. Guimarães Rosa tinha razão, a simplicidade é uma conquista... Nesse momento as mulheres haviam delirado pelos homens mais belos, pelos mais educados e nobres e apergunta que caía da boca de umas e eram expulsas da bocas de outras: "quem era esse Deus, qual o nome dele?"
Do modo natural e satisfeita que estava disse em alto e bom tom para não haver dúvidas:
__ Fernanda.
Foi um mal-estar na civilização, ninguém sabia para onde olhar, nem onde colocar as mãos, muito menos como seguir em frente com outro assunto e o mundo continuou o mesmo.

By Edu França.

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