domingo, 19 de junho de 2011

Leci Brandão



"A questão da força da televisão mudou uma série de coisas. Porque TV é estética. O artista tem que ser jovenzinho, bonitinho; mulher, então, tem que ser loirinha e gostosa. Se a pessoa não tem um modelo para a TV, fica mais difícil. Paralelamente a isso – e bato no peito e digo sem o menor problema –, não tenho rabo preso com ninguém; sou uma sambista muito pensante. Desde o início da minha carreira, sempre segurei bandeiras difíceis, sempre fui atenta a tudo o que acontecia ao meu redor, sempre discuti no mesmo nível com as pessoas. Tem um amigo que diz: ´Você nasceu mulher, negra, de esquerda e quer brigar. Você quer o quê? Fica difícil, você também complica a vida´. Eu digo que não é para complicar, é que sou autêntica, sou dessa forma. Quando resolvi seguir a carreira artística, assumi um compromisso comigo de que iria fazer algo através da minha arte para as minhas comunidades, para o meu povo. Não vou esquecer nunca a minha origem, nada do que passei, do que batalhei e batalho até hoje. Ralo muito para conseguir sobreviver artisticamente. Dessa minha postura o sistema não gosta. Até porque algumas letras que fazem parte dos meus CDs são contestadoras, questionam uma série de situações. Os poderosos querem botar o povo para dançar, mas sem pensar. Quando vou para um programa de TV, se me fazem uma pergunta e boto pra quebrar, já sou persona non grata. Pensam assim: ´Não traz a Leci porque ela vai querer falar de social, de negro, vem pra cá com barraco´. E, na verdade, não há barraco, não brigo com ninguém. O que tento colocar é que o Brasil é diferente do que as pessoas pensam. Nem tudo o que está na mídia é a cara do país. Eu ando pelo Brasil toda semana, já rodei o país de ponta a ponta. Vou às periferias, aos guetos, aos quilombos. E, apesar de todo esse afastamento da mídia tradicional, como já disse, tenho tido um enorme reconhecimento."

Versão da minha amiga Cris Monteiro para a imortal canção Zé do Caroço.







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